quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Minha Vida Sem Mim


De Isabel Coixet (2003, Espanha)

Dê vazão às suas lágrimas regularmente, se não conseguir por si só, Minha Vida Sem Mim. A história tem por base o drama de uma mulher que assiste à vida ambulante que está no mundo, vê universidades e alunos, mas sabe que não poderá participar do movimento do ideal social capitalista. Entretanto, não é abalada por morar num trailer apertado, com duas filhas pequenas e um marido que vaga pelos empregos.

A primeira cena está exatamente no lugar onde deveria estar. Um discurso que traz à tona o real peso do filme, a real crítica intrínseca. Há chuva caindo e há sinestesia até nas cores, tudo é tão tranqüilo e doce e a chuva alarga o diâmetro da percepção. Outras duas coisas interessantes no filme, tecnicamente falando, são a participação de Debbie Harris como a figura do conservadorismo acomodado, a mãe de Ann; e o título do filme, o ápice lacrimal é o momento em que o título aparece.

Qual é a real utilidade prática de mais alguns anos estudando? E depois se dedicar a uma vida presa ao trabalho e, muitas vezes, distante da felicidade e da liberdade desta. A felicidade que Ann experimentava era real. Havia os problemas que a carência econômica gerava, mas os dias com as filhas era magnanimamente superior. Mas quando um caminho vê um fim, o chão balança por não querer terminar.

A mente exausta de mentar percebe que a felicidade não está num acúmulo desordenado de capital ou de conhecimentos mil, mas em pequenos detalhes e vontades realizadas. Brincadeiras e risos descompromissados apesar do pesar incessante que ronda. Não é difícil perceber que o mundo não parou quando você ficou sentada numa paixão no meio do caminho, mas faz pensar se realmente é necessário acompanhar o rodar incessante. Você senta-se, suas cartas chegam, suas filhas crescem, sua voz ecoa e as lágrimas secam, sua vida anda, e você sentada.

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